terça-feira, 10 de junho de 2025

O Policial Militar - Uma Engrenagem Descartável na Máquina da Injustiça.

Nas entranhas da sociedade, onde a ordem e o caos travam uma batalha constante, ergue-se a figura do Policial Militar. Vestido em seu uniforme, muitas vezes desgastado pelas intempéries e pela dureza da rotina, ele personifica a linha tênue entre a segurança e a barbárie. No entanto, por trás da imagem de autoridade e proteção, esconde-se uma realidade sombria: a de um profissional frequentemente tratado como uma peça descartável, utilizada, manipulada, desvalorizada e, por fim, esquecida nas trincheiras da injustiça.

Desde o momento em que ingressa na corporação, o policial militar é moldado por um sistema hierárquico e rigoroso, treinado para obedecer e servir, muitas vezes em condições precárias e sob pressão constante. Ele é enviado para as ruas, para lidar com a complexidade da violência urbana, a fragilidade social e a impunidade que corroem o tecido da comunidade. Ali, ele se torna o primeiro a responder, o escudo humano entre o cidadão e a ameaça, o depositário das frustrações e dos anseios por segurança.

Nessa jornada árdua, o policial é constantemente usado. É acionado para atender ocorrências de toda natureza, desde as mais triviais até as mais perigosas, muitas vezes sem o equipamento adequado ou o apoio necessário. É colocado em situações de risco extremo, onde sua vida é posta à prova em frações de segundo. É instrumentalizado politicamente, sendo ora exaltado como herói, ora demonizado como opressor, dependendo dos interesses e das conveniências do momento.

A manipulação se manifesta de diversas formas. Promessas de melhores condições de trabalho, salários justos e reconhecimento profissional são frequentemente proferidas, mas raramente concretizadas. O policial é submetido a escalas exaustivas, que comprometem sua saúde física e mental, e muitas vezes é transferido de unidade sem qualquer consideração por sua vida pessoal ou familiar. Ele é cobrado por resultados, pressionado por estatísticas e exposto a uma cultura de medo e punição, que o impede de questionar ou expressar suas necessidades.

A desvalorização é uma ferida constante na alma do policial militar. Seus salários, em grande parte dos casos, não condizem com os riscos e as responsabilidades da profissão. Sua formação e seu treinamento são, por vezes, insuficientes para lidar com a complexidade dos desafios que enfrenta. O reconhecimento por seus atos de bravura e serviço é raro, enquanto as críticas e as acusações são frequentes e amplificadas pela mídia e pela opinião pública. Ele se sente invisível, ignorado pelas autoridades e incompreendido pela sociedade que jura proteger.

A desconsideração se manifesta no tratamento burocrático e impessoal que muitas vezes recebe da própria instituição e do Estado. A falta de estrutura de apoio psicológico para lidar com o trauma e o estresse da profissão, a dificuldade em acessar serviços de saúde adequados e a morosidade nos processos de reconhecimento de direitos são apenas alguns exemplos dessa negligência. O policial se sente um número, uma engrenagem substituível em uma máquina fria e indiferente.

E então, chega o momento em que essa peça, já desgastada pelo uso, pelas pressões e pelas injustiças, não é mais considerada útil. Seja pela aposentadoria, por uma lesão incapacitante ou, tragicamente, pela morte em serviço, o policial militar é, muitas vezes, esquecido. Os heróis de outrora se tornam estatísticas, seus sacrifícios são minimizados e suas famílias são deixadas à própria sorte.

Nas "trincheiras da injustiça", onde a burocracia, a falta de recursos e a insensibilidade humana imperam, os veteranos e pensionistas da Polícia Militar enfrentam um novo calvário. Lutam por seus direitos previdenciários, por assistência médica digna e por um reconhecimento tardio, mas essencial, de sua contribuição para a sociedade. Sentem na pele o peso do abandono e a amargura de terem sido descartados após dedicarem suas vidas à defesa do bem comum.

A situação do policial militar no Brasil, em muitos aspectos, é emblemática de uma sociedade que valoriza superficialmente a segurança, mas negligencia aqueles que a garantem com o próprio sangue. É um retrato de um sistema que exige sacrifícios extremos de seus agentes da lei, mas falha em oferecer o suporte, o reconhecimento e a dignidade que eles merecem.

É imperativo que essa lógica perversa seja revertida. É preciso reconhecer o valor inestimável do policial militar, não apenas em palavras, mas em ações concretas. Investir em sua formação, em suas condições de trabalho, em sua saúde física e mental e no bem-estar de seus familiares é um dever do Estado e um imperativo para a construção de uma sociedade mais justa e segura para todos.

Enquanto o policial militar continuar a ser tratado como uma peça descartável, a engrenagem da injustiça continuará a girar, perpetuando um ciclo de desvalorização e sofrimento. Que a sociedade e seus governantes despertem para a urgência de reconhecer a humanidade por trás da farda, honrando aqueles que dedicam suas vidas a proteger as nossas. Somente assim, as trincheiras da injustiça poderão ser transformadas em um terreno de reconhecimento e respeito para esses verdadeiros heróis da vida real.

Força e Honra Com Deus no Comando Sempre. 

Teóphilo.

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