terça-feira, 10 de junho de 2025

Que Saudades de Você!

O vento que soprava preguiçoso pelas ruas de Jacareí carregava consigo não apenas o aroma das acácias em flor, mas também uma brisa nostálgica que eriçava os poucos cabelos que restavam na minha cabeça. Sentado à varanda, com a caneca de café já fria entre as mãos, meus pensamentos invariavelmente gravitavam para aqueles tempos… tempos de farda, de botas lustradas e do peso reconfortante do coldre na cintura.

Por onde andariam os Stives? Lembro-me dele, sempre sorridente, com aquela piada pronta para qualquer situação, capaz de desarmar até o mais tenso dos confrontos com uma tirada espirituosa. E o Léu, com sua seriedade inabalável durante o serviço, mas um coração de ouro nas horas de folga, sempre pronto a estender a mão. Ah, e o Jhon! Aquele gigante gentil, com uma força descomunal, mas uma paciência infinita para lidar com os mais exaltados. E o Mané… o Mané era a nossa alegria constante, com seu jeito estabanado e suas histórias inacreditáveis que invariavelmente terminavam em gargalhadas.

Éramos um batalhão, sim, um pelotão, claro, uma guarnição de viatura, sem dúvida. Mas, acima de tudo, éramos uma família. Uma família forjada no calor dos treinamentos exaustivos, nas madrugadas frias das rondas, na adrenalina das ocorrências perigosas. Conhecíamos as manias, os medos, os sonhos uns dos outros. Sabíamos quem tinha um filho doente em casa, quem estava passando por dificuldades financeiras, quem suspirava por um amor distante. Sabíamos mais da vida uns dos outros do que, talvez, nossos próprios familiares.

A Polícia Militar do Estado de São Paulo, aquela instituição que nos acolheu jovens e cheios de idealismo, foi a forja que nos moldou. As instruções rigorosas, o convívio intenso, a disciplina imposta e absorvida nos ensinaram uma lição fundamental: éramos um só corpo, indivisível. Um cuidando do outro em cada instante, em cada desafio. Aprendemos na prática o significado profundo daquele lema que ecoava em nossos corações: "Um por todos e todos por um".

Hoje, a farda está guardada, as botas já não brilham como antes, e o coldre permanece vazio. Somos veteranos agora, carregando no corpo e na alma as marcas de incontáveis batalhas. Mas a camaradagem, o senso de união, o laço invisível que nos uniu naquela época gloriosa, esse permanece intacto.

Às vezes, pego-me folheando álbuns de fotos amareladas, revendo rostos jovens e cheios de energia. Sinto uma ponta de saudade, uma nostalgia doce e melancólica. Gostaria de saber por onde andam esses meus irmãos de farda, esses parceiros de tantas jornadas. Será que ainda se lembram das nossas peripécias, dos nossos códigos internos, dos nossos momentos de tensão e de alegria?

Quem sabe, um dia, o acaso nos reúna novamente em algum boteco da vida, para reviver essas histórias, para rir das nossas desventuras e para matar essa saudade que teima em apertar o peito. Até lá, meus amigos, onde quer que vocês estejam, saibam que a lembrança de nossa irmandade continua viva em meu coração de veterano. Que saudade de vocês!

Deus no Comando Sempre. 

Teóphilo. 

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